História de Búzios a partir do século XX

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HISTÓRIA DE BÚZIOS A PARTIR DO SÉCULO XX

Saiba como a cidade se tornou o que é hoje!

Durante o século XX, Armação dos Búzios viveu alguns ciclos econômicos significativos. Nas duas primeiras décadas, o então 3o Distrito de Cabo Frio sobrevivia da comercialização do peixe salgado e da plantação de bananas.
Na virada do século, mais precisamente nos anos 20, o cultivo da banana ganhou expressão com a chegada à região do engenheiro alemão Eugenne Honold. Tornando-se proprietário da Fazenda Campos Novos, adquirida dos jesuítas, Honold estendeu suas propriedades por toda a península, chegando até os Ossos, visando, sobretudo, ampliar seu investimento. O negócio progrediu, empregando quase a totalidade dos moradores locais.

Em que pese à dificuldade referente à qualidade da mão de obra local, sua produção encontrou mercados receptivos na Europa. Entretanto, desentendimentos de caráter administrativo e operacional prejudicaram o bom andamento do empreendimento, fazendo com que Honold abandonasse Búzios, após o incêndio criminoso que extinguiu, por completo, a plantação.

Nesta época, Búzios apresentava infraestrutura urbana e equipamentos comunitários em situação de notória precariedade. A única estrada de acesso a Cabo Frio encontrava-se em péssimas condições e a região não contava com escola. A água provinha de poços públicos ou particulares e a iluminação pública era obtida por meio de lamparinas de óleo de mamona. A dieta alimentar baseava-se, sobretudo, em frutos do mar, farinha de mandioca, banana e frutas da época. As moradias, por sua vez, eram simples, baixas, com telhas coloniais, caiadas de branco, externa e internamente. A única festividade local era a dedicada, anualmente, a Sant’Anna.

Alguns anos mais tarde, os herdeiros de Honold, percebendo o valor e o potencial daquelas terras, decidiram retomar os investimentos na região, criando a Companhia Odeon, dando início, assim, a um projeto pioneiro de colonização, que inaugurava a fase moderna de Búzios.

Por volta dos anos 50, e por iniciativa das famílias Sampaio e Ribeiro Dantas, o Município começou a receber infraestrutura básica. Foi aberta a primeira estrada/avenida – a atual Avenida Bento Ribeiro Dantas – que corta todo o município em torno da qual surgiram os primeiros loteamentos, vendidos a alguns veranistas para a construção de casas de fim de semana.

Em 1951, é implantada a primeira linha de ônibus Cabo Frio–Búzios, facilitando o acesso a serviços médicos, educacionais e às repartições públicas. Nesse mesmo ano, Bento Ribeiro Dantas, então presidente da empresa aérea Cruzeiro do Sul, constrói sua residência de veraneio em Manguinhos. Seu envolvimento com a vila foi de tal ordem que acabou por atrair outros turistas para a região. Em virtude do empenho revelado, foi nomeado administrador honorário do 3º Distrito de Cabo Frio.

O crescimento de Búzios permitiu a instalação, ainda nos anos 50, de uma escola em Manguinhos, onde estudou toda a velha guarda de Búzios, três armazéns e um sub cartório. Nesta década já havia sido implantada a iluminação elétrica, fornecida por um motor a diesel, localizado na Usina, acionado ao anoitecer para funcionar até às 22h, nos dias de semana, e até à meia noite, nos sábados e domingos. Dois aparelhos telefônicos com manivela e auxílio de telefonista, ligados em extensão, um em Manguinhos e outro na Praia dos Ossos, e um posto de saúde precário, equipado com água a bomba e fogão a lenha, atendiam os habitantes da região.
Foi este o vilarejo encontrado por Brigitte Bardot quando, no início dos anos 60, chegou a Búzios.
Encantada com a localidade estendeu sua permanência, despertando a atenção mundial para a região, que entrou na agenda do turismo internacional como um lugar simples, porém sofisticado.

Entretanto, o núcleo central da cidade, na época, limitava-se à praia dos Ossos, coexistindo com uma outra concentração em Manguinhos. Na atual rua das Pedras, naquele tempo sem as pedras, havia apenas uma igreja, o bar do Pacato, a casa-pousada do Ramón e a dos Búzios.

Se, nos anos 20, a chegada de Eugenne Honold significou um marco na história do desenvolvimento local, a estada de Brigitte Bardot e a inauguração da Ponte Rio-Niterói, na década de 70, contribuíram para impulsionar o turismo e a consequente ocupação no 3º Distrito de Cabo Frio.

Entretanto, o crescimento vertiginoso, estimulado por proprietários de terras e estrangeiros instalados na região, não contou com o apoio do Poder Público municipal. Intervenções de caráter especulativo, realizadas sem a devida atenção ao patrimônio construído e paisagístico, acarretaram diversas consequências sociais, econômicas, políticas e ambientais. Este incremento “desenvolvimentista” desordenado trouxe consigo, também sem medidas acautelatórias de controle, a aquisição de casas de pescadores, adaptadas para oferecer maior conforto, o estabelecimento de numerosas pousadas, restaurantes e bares.

Todavia, em que pese algumas melhorias, os moradores locais, aliados a influentes proprietários de terras e de casas de veraneio, insatisfeitos com o tratamento dispensado por Cabo Frio a Búzios, iniciaram, em fins da década de 80, o processo de sua emancipação. Em dezembro de 1995, foi criado o Município de Armação dos Búzios, após mais de 10 anos de reivindicação da população e realização de plebiscito que obteve, como resultado, 96% de votos favoráveis à emancipação.
No ano seguinte, 1996, a população local elegeu, pela primeira vez, o Prefeito e os seus representantes para a Câmara Municipal, dando início a um processo político-administrativo e socioeconômico inteiramente novos.

A partir da emancipação, Búzios experimentou um verdadeiro “boom” de crescimento, muitas vezes desordenado, caracterizado por ocupações irregulares em áreas de preservação permanente, como topo de morros, beira de lagoas e em sítios com declividade acima do permitido para edificações. As novas construções tornaram-se luxuosas, arquitetonicamente mais arrojadas, ainda que preservando o chamado “estilo Búzios”. Multiplicaram-se os condomínios fechados, os conjuntos habitacionais de alto nível, boa parte deles assentados ao longo das faixas litorâneas, desencadeando um processo de “privatização” das praias.

Búzios, em sua trajetória, tornou-se, sem dúvida, um lugar especial, onde a beleza privilegiada da natureza abriga a coexistência de diferentes estilos de vida e visões de mundo. Os traços de primitivismo ainda resguardados convivem, lado a lado, com intervenções extremamente sofisticadas e modernas que apontam para um nível peculiar de heterogeneidade, típica de organizações sociais complexas.
A expansão do turismo, somada à presença marcante de estrangeiros, argentinos e franceses, em sua maioria, estabelecidos na cidade, notadamente a partir dos anos 70, estimulou a inclusão de Búzios nos principais roteiros internacionais, tornando-a ponto de encontro de inúmeras nacionalidades, religiões, idiomas e culturas.